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Bem-vindo a nossa casa.

Aqui contamos histórias sobre nossas peripécias dando a volta ao mundo em nosso veleiro. Nós somos: Fabio, Miriam, Caio, Rafael e Cacau e não sabemos onde vamos parar, só sabemos que vamos "Para onde o vento vai".


sábado, 24 de setembro de 2011

O alcance de uma flexa

O arqueiro arqueia o arco e se torna o arco. A flecha uma extensão de seu corpo e uma vez solta se desloca levando consigo a vontade do arqueiro.

Nossa vida ora recheada de realizações ora coberta de frustrações nós mostra que vamos tão longe quanto nossa vontade nos permite. Nos sentimos livres e vivemos todos os momentos de nossa trajetória com a certeza que sabemos para onde vamos e com mais certeza ainda que temos o controle do que se passa conosco.

Agora estamos aqui, dentro de alguns dias estaremos lá. Isso é nossa vontade se manifestando. Hoje eu tenho isso, amanhã eu vou ter aquilo. E centramos nossos pensamentos em fazer e ter. Vida social que nos impõe comportamentos, coisas, lugares. Velejadores são diferentes. Abrem mão de muita coisa e ganham em troca muito mais.

Mas com o tempo e com um pouco de humildade voltamos nosso pensamento para a verdade. Somos como a flecha. Temos a ilusão da escolha, mas o que levamos conosco é nada mais nada menos que a vontade do arqueiro. A flecha não se desvia.

Está na hora de voltar, mesmo que seja uma volta temporária. A hora chegou. O Mar passou a ser nossa pátria, nossa nação, nossa casa. Nele falamos o idioma desconhecido para os que tem raízes em terra. Voltamos para ver nossos entes queridos. Para curar a dor da saudade.

Essa volta representa um momento de reflexão. A flecha lançada não é capaz de voltar, segue sempre em frente, então porque voltamos? Nossa vontade é mais forte que a vontade do arqueiro ?

Não acredito...

Como a flecha que já foi lançada temos que voltar ao mar sem o qual a vida, nossa vida, não será mais possível. Nosso primeiro trecho já foi coberto. Estamos na metade do caminho de nossa primeira etapa. Águas que, de agora em diante, nos levarão de volta para nosso ponto de partida.

A flecha continua sua trajetória. Até onde a flecha vai ?

Não sei.

domingo, 18 de setembro de 2011

Estou farto de explicações...

Eu ainda me surpreendo com algumas coisas.

Conversando com uma amiga de Gibraltar eu recebi a informação que aqui os ônibus são gratuitos. Você vai para qualquer lugar em Gibraltar sem ter que pagar ônibus. É assim e pronto. Disse isso com uma naturalidade britânica. Soou como se a coisa fosse normal.

Não se paga ônibus e pronto. Porque eu deveria pagar para usar transporte público se este recurso é pago com o dinheiro dos impostos ?

Ficou na minha mente uma pergunta. Eu tenho milhares de motivos para explicar porque o serviço de transporte público deve ser pago, mas nenhum é capaz de responder a essa simples pergunta.

Sei lá... Eu nasci brasileiro e acredito que tenho que pagar os impostos para sustentar o estado para que ele me dê saúde, transporte, segurança, educação, lazer e tudo o mais que inutilmente foi colocado na Constituição da República de Bananas do Brasil. Como o estado não dá nada disso eu pago pela assistência médica particular, pago pelo transporte, pago o maior imposto do mundo na compra de um carro, tenho que morar num condomínio para deixar os ladrões do lado de fora, etc,etc,etc. Isso tudo é muito natural para todo brasileiro, mas depois que você abre os olhos, vendo o mundo ao redor, isso parece tão irreal !!!

""'Porque não pode ser gratuito ?"""

Essa é uma pergunta muito difícil de responder quando se é brasileiro !!!


Sinceramente, espero que alguém possa me CONVENCER porque não !!!

Estou farto de explicações...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Impressões sobre o desenvolvimento

Quero fazer um churrasco !!!

Não podemos fazer sem avisar os bombeiros !!!

No princípio não acreditei nisso, mas com o tempo e com uma visão um tanto mais apurada sobre a realidade acabei por entender porque

A Cláudia (brasileira radica em Gibraltar que junto com seu marido Derek se tornaram companheiros e amigos) me falou sobre a necessidade de ligar para os bombeiros para avisar que vamos fazer um churrasco. E ela ligou e realmente precisa avisar e passar os detalhes sempre que alguém quiser acender um fogo (qualquer fogo)...

Por mais absurdo que isso possa parecer, para nós brasileiros, isso é razoável !!!

O desenvolvimento tem seu preço. Um lugar onde não existe pobreza, onde o que se paga de impostos reverte em benefícios, onde a assistência médica é gratuita e funciona de verdade (se em Gibraltar não tiver o tratamento o ESTADO paga a transferência, passagem, hospedagem e as despesas para onde o tratamento pode se efetivar, sem filas, sem propinas, pelo simples fato de se pagar os impostos). As crianças recebem educação pública de qualidade e se quiserem fazer faculdade o fazem por conta do ESTADO, inclusive com os custos de habitação e materiais incluídos...

Ter que avisar que vai fazer um churrasco é um preço muito baixo para todos estes benefícios...

Que tal implantarmos, no Brasil, a campanha: AVISE ONDE É SEU CHURRASCO !!!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

No meio do caminho tinha uma Rocha

Não fazia a menor idéia onde ou que estaria fazendo um ano depois da decisão, mas decisão é decisão, então vamos em frente. Planejar e executar o plano com os mínimos detalhes. Meu Deus, quanto coisa para fazer e o tempo tão curto !!!

Claro, eu não tinha muita experiência em navegação, o Flyer é muito pequeno? A tripulação passaria bem ? As travessias serão difíceis? etc, etc, etc

Ao ouvir os comentários dos outros navegantes sobre as dificuldades quase desisti. Deus como as coisas são difíceis de conseguir !!!

Desde que estas dúvidas apareceram até o momento presente uma eternidade de experiências e vivências se passou. Foi um ano, alias mais que um ano, vivendo a bordo de um veleiro de 30 pés. Eu, a Miriam, o Caio e o Rafael entramos nessa aventura para fazer o cruzeiro Costa Leste 2010 com destino a Fernando de Noronha e agora no estreito encontramos essa Rocha. Gigantesca e cheia de significado.  Gibraltar e suas caracteristicas é um ponto de controle.

Se chegamos até aqui devemos olhar para nossos sonhos, medos e anseios e fazer um balanço.

Cada fase da viagem foi peculiar. As primeiras experiências numa flotilha. A rotina de navegar em grupo. A amizade que não se esvaeçe. A chegada a Fernando de Noronha. Subir para o Caribe, atravessar o Caribe. As experiências com idiômas e costumes completamente diferentes. A travessia do Atlântico. Açores e os novos amigos. A segunda fase da travessia do Atlântico. A chegada ao velho continente e agora Gibraltar...

É muito peculiar a aproximação do estreito. Estamos saindo do Atlântico para passar por entre dois gigantes, de um lado Gibraltar (A Rocha) a Montanha de Tariq (Tariq ibn Ziyad) e do outro o Monte Ábila (ou monte Hacho). Ambos abertos, segundo a mitologia, por Hércules e são então conhecidos por Pilares de Hércules.

Ao chegar aqui a noite pelo estreito, em meu turno eu vi um cenário de luzes de ambos os lados. Quase pude tocar tanto a Europa quanto a África. Não havia diferença. Luzes de ambos os lados. Só isso.

O oceano Atlântico ficando para trás e o Mediterrêno se descurtinando.

Um mundo de novas experiências ?
Quem sabe...